domingo, 5 de abril de 2009

Da oralidade para a escrita


Antes de começar a falar sobre a entrada da leitura e da escrita em minha vida, é necessário narrar fatos que norteiam e valorizam meu relacionamento com estas. Fui criada por meus avós maternos que não sabiam ler e isso tornava o mundo letrado atraente e enigmático para eles.. O meu avô sabia o alfabeto, assinava seu nome e lidava muito bem com números (resolvia as quatro operações com muita destreza); e minha avó não se interessava e não sabia nada sobre isso.

Cresci embalada por histórias narradas por eles. Era a oralidade que imperava naquele ambiente. Não tínhamos livros em casa e o contato que tínhamos com a escrita era através de cartas de meus pais, parentes ou amigos que moravam em outras cidades. Essas cartas eram lidas por alguém da vizinhança.

Meu primeiro contato com a escola se deu através de uma professora, prima de minha avó. Como eu não tinha idade suficiente para ser matriculada, a prima Lili muitas vezes me levava para sua sala de aula. Eu a acompanhava com alegria e guardava uma impressão positiva da escola: lugar de prazer, descobertas e contato com indivíduos da minha faixa etária.

Nesse ir e vir sem compromissos, a leitura foi descoberta. Muito pequena, antes de completar seis anos, já conseguia desvendar os mistérios da escrita. Isso foi motivo de muito encantamento por parte de meu avô e com esse acontecimento tornei-me o centro das atenções e motivo de orgulho desse querido senhor. Muitas vezes lia para uma plateia de amigos do meu avô e era aplaudida por estes.

Ingressei, oficialmente, na escola aos sete anos e adorei esse momento. Minha primeira professora chamava-se Cleuza. Era atenciosa , meiga e muito paciente conosco. Costumava brincar de roda, durante o recreio, com a turma. Não guardo na memória detalhes dos dois anos que passei nesta escola, guardo apenas uma sensação agradável de momentos felizes.
Ouvíamos histórias e produzíamos textos que eram nomeados como descrições ou composições (sobre alguma gravura que a professora expunha do quadro).

As habilidades com a escrita e leitura foram ampliadas e passei a ser a leitora das cartas que meu avô recebia, e escritora das respostas que ele ditava. Eram momentos lúdicos onde minhas habilidades eram valorizadas e ampliadas, onde a escrita tinha objetivo e destino real.. Eu tentava ensinar-lhe a ler e escrever e ele me ensinava a lidar com os números. Criamos um jogo onde ele colocava algumas letras no papel e eu lia seus escritos. Algumas vezes as letras que ele escrevia formavam palavras (era pura coincidência) e isso o deixava muito feliz.

Ainda criança tornei-me uma leitora ávida e passava muito tempo viajando através de histórias em quadrinhos e livros adquiridos em bibliotecas ou emprestados por amigos. Mais tarde conheci Machado de Assis e lia e relia muitos dos seus livros. Tenho uma ligação afetiva com esse escritor, pois durante minha adolescência ele foi meu maior companheiro.

Atualmente, na escola, percebemos certo desinteresse para a leitura por parte de alunos e, infelizmente, de professores também. O livro perde o lugar de companheiro de entretenimento para dar lugar à TV, ao computador e outros meio eletrônicos.

Os textos produzidos na escola não possuem um destinatário que dê sentido a sua criação, objetivos que lhes dê consistência e as condições em que são produzidos não encantam e formam leitores e escritores.
Alba Varela Góis Nascimento